Pedro Mello, autor do recente livro “Startup Brasil” fala sobre a arte de empreender e cita alguns exemplos natos de empreendedorismo.
Empreender é uma decisão de vida, onde você escolhe criar seu próprio futuro em vez de deixá-lo nas mãos dos outros. Para quem segue esse caminho, a liberdade conquistada é mais importante do que toda segurança que um bom emprego pode oferecer.
São pessoas que fogem dos chefes pouco inspiradores para poder sonhar sem limites, arriscando-se sem medo em águas totalmente desconhecidas pela maior parte das pessoas. Carregam como seu maior ativo a intuição, usada para guiar cada passo desse caminho.
Mas poucos empreendedores conseguem viver plenamente as possibilidades de liberdade que um negócio próprio pode proporcionar, especialmente no Brasil. Em sua maioria, acabam escravizados pelo trabalho de tal forma que vivem apenas para suas empresas.
Seus empreendimentos tornam-se uma extensão de seus corpos, carregando o DNA de seus fundadores a todos os níveis da organização. Pessoas física e jurídica fundem-se, formando o elo invisível de um organismo completamente simbiótico.
Há mais de três anos pesquiso sistematicamente os empreendedores brasileiros. Alguns parecem iluminados. São pessoas com brilho e talento que fazem seus negócios se desenvolverem de forma excepcional. Empreendedores que criaram empresas que, até bem poucos anos atrás, eram pequenas como milhares de outras que nasceram na mesma época.
Mas, com um toque especial, conseguiram transformá-las em grandes grupos econômicos que faturam bilhões de reais por ano. Ou então, se ainda estão longe dos faturamentos gigantescos, certamente são líderes nos setores em que atuam. Em sua maioria, mercados criados por eles mesmos a partir de sua criatividade e visão de futuro.
Visão mais ampla do mundo
Quando selecionamos os dez empreendedores que fariam parte do livro Startup Brasil, sabíamos que tínhamos montado um grupo com uma característica em comum. Se tivesse que apontá-la, diria que seria uma visão holística e altruísta do mundo.
Entre os empreendedores desse livro, o que mais personifica esse perfil é o Miguel Krigsner, do Boticário. Ficará para sempre a lembrança de uma de suas colocações mais curtas e marcantes durante sua entrevista para o livro: “Pensar apenas no dinheiro é uma das maiores pobrezas que um ser pode ter”.
Afirmações como essa deixam claro que um empreendedor que só consegue olhar para seu próprio umbigo nunca será um grande empreendedor. Pode até vir a ser o dono de uma grande empresa e, quem sabe, até construir um patrimônio milionário. Mas nunca será visto como um líder genuíno, aquele que as pessoas seguem e admiram incondicionalmente.
Grandes empreendedores têm uma visão mais ampla. Sabem que medir o sucesso da empresa apenas pelos dividendos pagos aos acionistas e o retorno sobre o patrimônio líquido é, no mínimo, uma das maiores miopias do capitalismo.
Vão à contramão de milhões de pessoas seguidoras de práticas de gestão que visam apenas à remuneração do capital, e assim constroem uma empresa que é muito mais do que apenas um índice de retorno sobre investimento.
Profundamente treinados para empreender
Uma das principais teses apresentadas por Malcom Gladwell em seu livro Outliers (no Brasil traduzido para “Fora de Série”) é que pessoas consideradas como fora de série fazem 10.000 horas de treinamento antes de serem consagradas como geniais.
Foi assim com Bill Gates, que não virou o empresário mais rico do mundo por acaso. Antes de fundar a Microsoft com Paul Allen, em 1975, ele já tinha muito mais do que 10.000 horas de treinamento naquilo que viria a ser sua profissão, o desenvolvimento de programas para computadores.
Gates também teve a sorte de estudar na escola Lakeside, em Seattle, onde foi montado um dos primeiros clubes de informática da época. Com três mil dólares arrecadados pelo Clube das Mães, a escola ganhou um terminal de computador que mudaria a vida do garoto.
Digo que ele teve sorte porque essa máquina era nada menos do que um ASR-33 Teletype, um terminal de tempo compartilhado ligado diretamente a um mainframe no centro da cidade. O equipamento era muito mais avançado do que aqueles operados por cartões perfurados que eram usados na época. Com isso, Gates começou a programar em tempo real na oitava série, em 1968, enquanto muitos estudantes universitários ainda não tinham acesso a essa tecnologia.
A bonança computacional foi passageira. Logo, acabou o dinheiro usado para pagar o aluguel das horas de mainframe. A saída encontrada por Gates e seus amigos foi gerar os recursos em troca de testes em programas da empresa C-Cubed. Mas isso também durou pouco.
O negócio acabou indo à falência e lá se foi mais uma chance de mergulhar na informática. Diante dessa dificuldade, os estudantes recorreram ao centro de computação da Universidade de Washington, onde acabaram conhecendo a empresa Information Sciences Inc., que abriu suas portas aos jovens nerds em troca do desenvolvimento de um software de folha de pagamento. Em apenas sete meses de trabalho para esse projeto, Bill Gates acumulou 1.575 horas de trabalho, uma média de oito horas por dia, sete dias por semana.
Após o trabalho na ISI, Gates foi convidado por um de seus sócios a se mudar por um período de três meses para Bonneville, cidade ao sul do estado de Washington, para desenvolver os programas para a enorme usina de energia da cidade. Durante uma primavera inteira ele desenvolveu os sistemas sob a supervisão desse sócio da ISI, John Norton, uma das pessoas de que, segundo ele, mais aprendeu sobre programação.
Como você pode perceber, este seria apenas o início de uma longa jornada que levaria Bill Gates a cumprir suas mais de 10 mil horas de treinamentos, antes de acumular conhecimentos para revolucionar a informática.
Também foi assim com os Beatles, um dos maiores grupos de rock de todos os tempos, que mudaram a música popular americana a partir de 1964, quando desembarcaram nos Estados Unidos pela primeira vez.
Para continuar lendo a história dos Beatles e outros cases de empreendedorismo acesse a matéria completa no portal do Movimento Brasil.
Pedro Mello lidera o Grupo Quack. Lançará em março seu novo livro, “Startup Brasil”, em coautoria com a jornalista Marina Vidigal e sob o selo Ediouro.
Portal HSM
14/03/2011
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